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11 maio, 2018
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13 de maio: 130 anos da abolição inacabada

Data é uma referência de luta e combate à segregação e discriminação de raça
A dirigente do Sindicato Estadual dos Professores no setor de combate a discriminação, professora Clarice Ávila, avalia o 13 de maio, quando é celebrada a abolição da escravatura como uma questão emblemática para a população negra. Ela afirma que a data é uma referência de luta e combate à segregação e discriminação de raça.
- Nós, que integramos o movimento negro, acreditamos que a abolição da escravatura, assinada em 1888, não ofereceu condições estruturais para que negros e negras tivessem, de fato, condições de liberdade. Naquela época, como nos dias de hoje, faltam políticas públicas que viabilizem a inserção do afrodescendente na sociedade, em condições de equidade e igualdade. São 130 anos de uma abolição inacabada – detalhou Clarice, ressaltando que houve alguns avanços entre 2003 e 2016, porém o momento agora é de retrocesso e estagnação.
Clarice Ávila tem no movimento negro uma das suas expressões de trabalho. “A história remonta o processo de exclusão vivido pelos negros ao longo dos séculos. Apesar dos avanços da modernidade, inclusive tecnológico, os afrodescendentes ainda sofrem com a exclusão social. Na contramão deste contexto, os negros representam 54% da população do Brasil e apesar de todo esforço equivalem a apenas metade dos 27 milhões de empreendedores no país. Então, é preciso abrir horizontes, que permitam novas perspectivas”, disse Clarice, afirmando que o racismo tem o propósito de garantir vantagens a classe dominante. A cor da pele, infelizmente, ainda marca as desigualdades”, disse.
DESEMPREGO ENTRE OS NEGROS - Para se ter idéia da situação vivida pelos negros e negras no Brasil basta analisar os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que no terceiro trimestre de 2017, apontou 13 milhões de desempregados no país. Desse total, 8,3 milhões (63,7%) são negros ou pardos. Segundo o órgão a taxa de desocupação dessa parcela da população ficou em 14,6%, enquanto a da população branca ficou em 9,9%.
O contraste racial no mercado de trabalho também se estende à remuneração. Segundo o IBGE, negros e pardos recebem, em média, R$ 1.531 – quase a metade do rendimento médio dos brancos, que é de R$ 2.757. Situação semelhante é observada no percentual de trabalhadores com carteira assinada no país. Negros e pardos nesta condição somavam 71,3%, abaixo do observado no total do setor (75,3%). A projeção é de que apenas em 2089, daqui a pelo menos 72 anos, brancos e negros terão uma renda equivalente no Brasil. Os dados são da pesquisa "A distância que nos une - Um retrato das Desigualdades Brasileiras", realizada pela ONG britânica Oxfam, dedicada a combater a pobreza e promover a justiça social.
O cenário é ainda pior para a mulher afrodescendente. Os vencimentos dela chegam a representar apenas 50% do que recebe o homem branco. “A discrepância tem se reduzido ao longo dos anos. Em 2003, o salário dessa mulher era apenas 38% do que a renda do homem branco. Mas podemos dizer que os desafios continuam. Infelizmente, a população negra é mais atingida pela violência, desemprego e falta de representatividade. É urgente e necessário a mudança deste cenário no sentido de promover uma sociedade mais justa e igualitária ”, conclui a professora Clarice.

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