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30 novembro, 2018
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Barra Mansa debate o enfrentamento a violência contra a mulher



- O marido tranca o armário da cozinha com cadeado antes de sair de casa. A comida só é liberada quando ele chega do serviço.

- O companheiro espanca a mulher, quebra seus dentes, machuca todo o seu corpo e quando a polícia chega está com um machado nas mãos para continuar a violência; mas a mulher diz que sua intenção ao pedir ajuda era só dar um susto no agressor.

- Outra mulher sofre durante alguns anos violência psicológica do seu companheiro, um agente de segurança pública.

Relatos como esses fizeram parte da roda de conversa realizada pela Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos de Barra Mansa, na tarde desta quinta-feira (29) no auditório da CDL – BM (Câmara de Dirigentes Lojistas). Com os temas ‘enfrentamento a violência contra as mulheres’ e a ‘Casa Abrigo Regional de Permanência Breve Deiva Ramphini Rebello’, o encontro reuniu profissionais do Creas, Cras, Conselho Tutelar, Lar Acolhedor, UPA, Serviço de Atendimento Domiciliar, Polícias Civil e Militar, Secretaria de Saúde, Hospital da Mulher, UPA e Centro POP, na perspectiva de aprofundar as discussões sobre políticas públicas de combate a violência doméstica.

O encontro foi aberto pela secretária de Assistência Social e Direitos Humanos, Ruth Coutinho, a Rutinha, que citou trechos da música ‘Sem açúcar’, de Chico Buarque: Dia ímpar tem chocolate, dia par eu vivo de brisa. Dia útil ele me bate, dia santo ele me alisa. Longe dele eu tremo de amor, na presença dele me calo.

- Pois é, o ciclo da violência contra a mulher fica bem retratado nessa canção. A vítima acredita, ou pelos menos, tenta acreditar que foi só aquela vez e que não vai acontecer mais. No entanto, a situação se torna cotidiana, destrói a família, acaba com a autoestima da mulher e afeta seus filhos. São esses tipos de casos que chegam até os profissionais que atuam diretamente no enfrentamento a violência doméstica que auxiliam na construção de novas perspectivas de vida. Nesse contexto, precisamos fortalecer a rede de atendimento à mulher, inclusive da Casa Abrigo Regional. A lei Maria da Penha está aí. São 12 anos da sua implantação. É considerada uma das melhores leis no mundo na coibição à violência contra a mulher e, ainda assim os números de agressões continuam crescentes - ponderou a secretária.

Rutinha ainda citou os números da violência em 2017 e 2018. “Ano passado, segundo dados do Instituto de Segurança Pública,foram registrados um homicídio doloso contra a mulher, 16 tentativas de homicídio, 367 lesões corporais, 41 estupros, três tentativas de estupro e um caso de assédio sexual. Este ano, de acordo com o CREAS, até o momento, já são 33 casos registrados, três de violência física, sete de violência física/ psicológica, 14 de violência psicológica, dois de abuso sexual, três de negligência, um de violência psicologia patrimonial, um de violência psicológica financeira e um de violência sexual. Mas os números não correspondem a realidade. Há muitos casos que não chegam ao conhecimento dos equipamentos públicos que atuam na defesa da vida da mulher devido à falta da formalização da denúncia”, disse.

Presente ao evento, o chefe do Setor de Inteligência da 90ª DP, Alexandre Ribeiro, explicou o procedimento de atendimento à mulher vítima de violência doméstica. “Quando elas chegam à delegacia fazemos o boletim de ocorrência e, dependendo da situação, encaminhamos para a Santa Casa ou a UPA a fim de realizarem o Boletim de Atendimento Médico. É um documento de comprovação dos fatos. Na sequencia, a vítima é encaminhada para o IML, em Três Poços, na divisa entre as cidades de Volta Redonda e Pinheiral. Muitas delas sequer têm dinheiro para pagar a passagem de deslocamento até o órgão, o que acaba comprometendo o encaminhamento do processo ao Ministério Público”, detalhou Alexandre.

A tenente Suellen Bazone, da 2ª Companhia da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, relatou que um dos grandes obstáculos diz respeito às mulheres que registram queixa e depois, querem desfazer o ato. “Em pelo menos 80% dos registros acontece esse tipo de situação. É um ciclo danoso, que vai minando a autoestima da mulher”, destacou a tenente.

O coordenador do Creas, Célio Carlos de Oliveira, expôs pontos polêmicos da atuação do órgão. “O Creas e o Cras não são órgãos de segurança e sim, de assistência a vitima. No entanto, muitas vezes passamos por situações em que a mulher precisa voltar a sua casa para pegar roupas ou documentos e o seu acompanhamento recai sobre os nossos profissionais. Também precisamos estabelecer uma relação mais próxima dos órgãos de segurança para que os casos registrados cheguem para o Creas e o Cras a fim de que possamos fazer o acolhimento dessas mulheres e, quando necessário o encaminhamento para a Casa Abrigo”.

ABUSO DE PODER - A coordenadora da Casa Abrigo Regional de Permanência Breve Deiva Ramphini Rebello, Renata Medeiros Lacerda, explicou que o órgão atende as vítimas de violência doméstica em caráter temporário, todas vítimas do abuso de poder. “Em março deste ano, oito municípios – Barra Mansa, Volta Redonda, Barra do Piraí, Quatis, Porto real, Resende, Pinheiral e Vassouras – assinaram um protocolo de intenções de concessão de um servidor para atuar na Casa Abrigo. Desde então, o órgão já atendeu a seis mulheres em situação de risco de morte. Duas delas estavam acompanhadas de seus filhos”, explicou.

Para Renata o grande desafio dos profissionais que prestam assistências às mulheres violentadas por seus maridos ou companheiro é a dependência financeira, associada à falta de opção de moradia. “Ainda temos muito que avançar na construção de políticas públicas para atender as vítimas desse tipo de violência”, concluiu.

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