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30 setembro, 2025
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Cineasta carioca se destaca nos EUA com filmes sobre dilemas culturais

Histórias sobre pertencimento e imigração têm ganhado novos contornos em Hollywood, e entre os nomes dessa geração surge o diretor e roteirista carioca Thiago Leoni. Formado em cinema pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), ele transformou sua experiência entre Brasil e Estados Unidos em uma linguagem própria, já reconhecida em festivais internacionais. O contexto não poderia ser mais atual: de acordo com o Itamaraty, cerca de 2,8 milhões de brasileiros vivem hoje nos EUA, a maior comunidade brasileira fora do país.

Sua estreia com o curta Querido Espaço (2020), produzido durante a pandemia, abriu portas em mais de 15 festivais e conquistou prêmios em Roma, Tóquio e Paris. A obra chamou atenção pela forma poética de abordar a transição da juventude para a vida adulta sob a ótica de quem vive entre culturas distintas. “Eu queria que o público, especialmente jovens que se veem pressionados por expectativas e ansiedade, sentissem que não estão sozinhos, que essa angústia é universal”, afirma o diretor.

Desde então, sua filmografia tem se aprofundado no tema da imigração. Em Manziello, retrata a rotina de um brasileiro em Los Angeles diante das contradições da vida americana. Já em Sofia. Take Um., experimenta o limite entre realidade e ficção, acompanhando os sonhos e a identidade de uma jovem brasileira nos EUA.

“Ainda é muito difícil penetrar nas produções de Hollywood. Elas continuam muito autorreferentes e sobram poucos espaços para histórias mais universais. A imigração quase sempre é tratada de forma dramática, sem nuances culturais”, observa Leoni. O diagnóstico encontra respaldo no relatório Latinos in Hollywood: Amplifying Voices, Expanding Horizons, da McKinsey, que mostra a sub-representação persistente dos latinos na indústria: apenas 4% dos papéis principais em filmes norte-americanos são ocupados por atores dessa origem, apesar de representarem cerca de 20% da população do país.

Paralelamente ao cinema autoral, Leoni aplica seu olhar cinematográfico ao Brasil. À frente de campanhas do Brasil Surfe Clube, marca carioca, levou técnicas aprendidas na Califórnia para criar comerciais com apelo narrativo. O curta O Vento Vai Virar, estrelado pelo campeão mundial de surfe Yago Dora, repercutiu na comunidade surfista global. “Em vez de uma luz bonita e cenário paradisíaco, busquei representar no diálogo entre dois surfistas a espera pela onda perfeita”, conta.

Atualmente, o diretor se dedica ao seu primeiro longa documental, que acompanha a trajetória do ator brasileiro Ivo Müller nos Estados Unidos. A produção discute barreiras linguísticas e culturais enfrentadas por artistas imigrantes. “Ivo Müller é um exemplo de resiliência artística. Em vez de seguir buscando um papel que se encaixasse no seu perfil, ele resolveu criar seu próprio personagem”, explica Leoni sobre o filme, previsto para estrear em 2026.

Além do documentário, Leoni desenvolve o curta Teto, uma peça intimista que coloca em cena um brasileiro de 25 anos e uma americana de 45 confinados em um quarto durante uma tempestade. O filme aborda as diferenças de idioma, culturais e geracionais em um relacionamento, revelando as barreiras invisíveis que se impõem entre os personagens. “O título reflete esses limites — o teto dela, o teto dele, os limites de até onde a relação pode ir”, explica o diretor.

Morando em Los Angeles desde 2018, Thiago Leoni simboliza uma nova geração de cineastas brasileiros que encontram no exterior tanto desafios quanto oportunidades. “Aqui tenho a chance de beber na fonte das grandes produções, trazendo uma narrativa estrangeira que o cinema americano ainda não desvendou. Quem ganha com esse intercâmbio é a audiência, que recebe histórias muito mais ricas”, resume.


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