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04 setembro, 2015
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Direita x Esquerda: Ainda existe algum lado?

O país vive um momento de grave crise que atinge a maior parte dos setores produtivos. Não estamos falando apenas de uma crise econômica e política, mas também de uma crise ética e moral. Estamos sob o holofote global e infelizmente nos tornamos piada pronta para os gringos que vêm acompanhando a nossa trajetória de crescimento, desde que entramos no grupo batizado de BRICs, junto com outras nações emergentes. O mundo apostou todas as suas fichas em nosso país e estamos escorregando graças à nossa incompetência e despreparo para vencer o nosso mais antigo e poderoso inimigo: a corrupção, esta que sempre existiu, desde os tempos em que a família real portuguesa aportou em nossas terras. E já faz tempo isso!
É inocente pensar que a corrupção é algo exclusivo do momento presente ou de algum governo específico. Ela sempre nos acompanhou de perto. Porém, hoje vivemos uma era de mudanças, ou melhor, estamos vivendo numa mudança de era. Com a transformação tecnológica, todos temos acesso à informação, um celular conectado em mãos e isso conferiu poder para qualquer um ser formador de opinião em potencial, mandar mensagens para grandes audiências através das redes sociais em real “time” e gerar a mobilização da grande mídia. E quando isso acontece gera a sensação de abundância, pois qualquer coisa, por menor que seja, pode vir à tona a qualquer momento e virar uma grande revolução. É só lembrarmos que a Primavera Árabe começou com discussões no Facebook e meses mais tarde conseguiu depor um ditador que controlava uma nação inteira há décadas com um aparente poder irrestrito.
Estamos vivendo algo parecido aqui no Brasil, em menor escala de envolvimento e argumentos coerentes, mas com grande importância. A operação "Lava-jato", que a cada dia vem desvendando nomes inimagináveis e rombos financeiros estratosféricos que ajudam a economia a estagnar e enfraquecer, acabou virando pauta e discussão nas nossas rotinas e nas redes sociais. Alguns criticam com base; outros defendem o indefensável; e há também aqueles que criticam sem saber o que estão falando, apenas para entrar "na modinha". O grande sociólogo, escritor e filólogo Umberto Eco declarou recentemente que as redes sociais deram voz a uma legião de "imbecis" e que "idiotas" acabam tendo o mesmo espaço de expressão de um prêmio Nobel. Há um pouco de verdade nessa declaração!
Hoje em dia parece que todo brasileiro virou "especialista" em ciência política. Direita contra esquerda? Uma discussão cada vez mais presente no nosso dia a dia digital, no barbeiro, no banco do taxista... Política virou o tema da vez, nem parece mais que já fomos o país de "especialistas" em futebol. Todos querem dar os seus pitacos, independente da qualidade dos mesmos. Pergunte para o prefeito da sua cidade como vem sendo complicado acompanhar os debates que envolvem a prefeitura nas redes sociais? Os governantes de outrora que não viveram essa nova era, não devem imaginar o quão difícil é lutar contra verdades, argumentos enviesados e mentiras que são ditas livremente por causa da sensação de coragem que temos devido ao anonimato de falarmos blindados atrás de uma tela. Da noite para o dia, todos nós nos tornamos corajosos, expomos nossas opiniões e o que há de melhor e pior dentro de nós.

        Neste cenário sórdido, as ideologias e, principalmente, a coerência vão por água abaixo. Esquerdistas com atitudes contrárias do que deveriam ter. Direitistas agindo de forma completamente diferente das suas convicções. A sensação que 2015 nos dá é de que os conceitos de direita e esquerda viraram pura base teórica emoldurada em algum livro velho e poeirento esquecido em uma biblioteca qualquer. Na prática, a linha entre direita e esquerda se tornou muito tênue, praticamente inexistente, algo de radicais virulentos para preencher o vazio das suas vidas.
        Um exemplo atual desta briga de quem ainda defende um lado, foi a recente discussão sobre a maioridade penal. Políticos de "direita" defendiam que a maioridade penal fosse reduzida para 16 anos. E do outro lado, estavam os políticos da "esquerda", conduzidos por siglas como o PT e por partidos extremistas, como o PSOL, que não concordavam com a redução.
        O argumento que um lado defende é que, se um jovem é capaz de matar, ele já pode ser responsabilizado pelo seu ato e pagar pelo crime. O outro lado defende que este indivíduo sendo preso, ao invés de se reabilitar, vai voltar ao convívio com a sociedade muito pior. Se formos parar para analisar, repararemos que os dois argumentos fazem sentido e aí perceberemos que o diálogo sempre será a voz da razão, a solução final. O meio termo e, sobretudo, o bom senso têm que prevalecer sempre nas discussões e nas atitudes de nossos governantes, pois eles governam para todos e não para um grupo pequeno e seleto.
A proposta de Emenda à Constituição 171/93, que diminui a maioridade penal de 18 para 16 anos, foi aprovada recentemente pelo plenário com 320 votos a favor e 152 contra e foi enviada ao Senado. De acordo com o texto aprovado, a maioridade será reduzida nos casos de crimes hediondos – como estupro e latrocínio – e também para homicídio doloso e lesão corporal seguida de morte.
      Outra situação cada vez mais presente em nosso dia a dia é o mercado de notícias caluniosas, sites tendenciosos, e até mesmo de um exército digital submisso a uma ideologia arcaica, muitas vezes recebendo dinheiro para propagar mentira e persuadir a massa, direcionando-a exclusivamente para o lado que lhe convém. Defender um grupo político ou um partido que foi condenado por inúmeros delitos é algo difícil de entender. Mas é o que mais vemos por aí.
        Estes motivos enfraquecem cada vez mais a verdadeira política, tiram a sua credibilidade, principalmente nos municípios, onde os partidos ficam reféns de um acordo em sua base e os entes políticos trabalham como uns fantoches. A verdade é que hoje, como já disse acima, não existe mais direita ou esquerda. O que existe é interesse e jogo de poder.
        Finalizando, faço uma reflexão de como não precisamos ser radicais para estarmos discutindo e inseridos na política, não precisamos ser candidatos ou filiados a nenhum partido para discuti-la. Devemos apenas saber ouvir os outros, ter bom senso e coerência nos nossos argumentos, pensamentos e opiniões. E também estarmos sempre com a cabeça aberta para a mudança, caso necessária. Lavagem cerebral e alienação não combinam com o século XXI. Sempre existirá a luta entre “coxinhas” e “esquerdas caviar”, tentando nos convencer de qualquer maneira das coisas em que acreditam, cada um puxando o pêndulo para o seu lado. Somos humanos e acabamos expressando um pouco das nossas opiniões em análises que deveriam ser neutras e imparciais. Até aquele seu velho professor de História por alguns momentos deixou de passar a matéria para debater e fazer analogia a uma determinada conduta política. Sempre fomos assim, com ou sem redes sociais, por isso o importante é pensar e interpretar sempre, pois não é a nossa capacidade de pensamento um dos maiores fatores que nos diferem dos animais irracionais?

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