15 maio, 2015
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Futebol regional vive crise financeira e política e busca novas alternativas

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Problema atinge vários estados do país, principalmente o estado do Rio


O futebol regional está enfraquecido. Os campeonatos estaduais não dão lucro e as interferências negativas das federações estão cada vez mais presentes no dia a dia dos clubes. Prova disso foi o campeonato carioca deste ano, que teve mais polêmicas e discussões do que futebol em alto nível. Contrariar publicamente a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) foi um problema para clubes cariocas, nem treinadores, presidentes e jogadores renomados, como Vanderlei Luxemburgo do Flamengo, Peter Siemsen do Fluminense, e Fred, também do tricolor, escaparam de punição por criticarem publicamente a Ferj.

Para se ter uma ideia, a Federação carioca lucrou mais que os próprios clubes. Segundo o site Futdados, apenas na cobrança de taxas de 10% sobre a renda bruta nos 126 jogos da competição, a entidade arrecadou cerca de R$ 2,5 milhões neste ano. O clube que mais lucrou com o campeonato foi o campeão Vasco, com R$ 2,3 milhões nos 19 jogos disputados. No total, o clube da Colina arrecadou perto de R$ 4,5 milhões. Com os descontos, o valor cai abaixo do número pomposo da taxa Ferj.

O Flamengo foi o clube que mais gerou montante no Carioca, com R$ 8,89 milhões brutos em 17 jogos. Mas com descontos como o custo operacional do Maracanã, por exemplo, o valor despencou para R$ 2 milhões limpos nos cofres rubro-negros.""

Em seguida, o Botafogo fecha a lista com lucro de R$ 1,4 milhão dos R$ 7,1 milhões arrecadados, enquanto o Fluminense embolsou apenas R$ 388 mil de R$ 2,2 milhões somados nos 17 jogos que disputou no Carioca. Dos 16 clubes participantes, três tiveram prejuízo com a competição: Volta Redonda (negativo de R$ 36 mil), Cabofriense (R$ 7 mil) e Tigres (R$ 8 mil). Segundo o vice-presidente do Voltaço, Gabriel Torturella, o motivo do fracasso do Campeonato Carioca foi a interferência da Federação: “A FERJ parece não perceber que ela é quem depende dos clubes, e não o contrário. Que sem os grandes clubes do Rio, notadamente Fluminense e Flamengo, rivais históricos que fizeram o futebol do Rio ser conhecido mundialmente, ela não é nada além de um instrumento de poder simbólico. E se pretende utilizar a força bruta, impondo regras abjetas e contrárias às leis e outros regulamentos desportivos superiores, é porque assina embaixo da própria inépcia e incapacidade de se reformular. Quem perde com isso é o futebol do Rio como um todo, com resultados cada vez mais inexpressivos no cenário nacional e menos times na série A do que, por exemplo, o futebol catarinense”. Sobre o prejuízo de R$ 36 mil que o clube teve no campeonato, Gabriel reafirmou sua tese. “Com a Federação agindo desta maneira, fica difícil ter bons resultados”, finalizou.

Com excesso de poder tanto na forma de conduzir o campeonato, quanto em termos financeiros, a Ferj vem perdendo credibilidade e alguns clubes estão em busca de uma alternativa. O jornalista Carlos Eduardo Éboli, da Rádio CBN, fez críticas à Federação e lamentou o que chamou de ""lei da mordaça”.

“O clube que mais ganha dinheiro com o campeonato estadual é o ""Federação Futebol Clube"". Os clubes estão deficitários e sempre se comportaram de maneira submissa e nunca se mobilizaram de uma maneira coletiva para esvaziar esse poder da Federação”, revelou Éboli.

O jornalista Roberto Avallone também fez críticas ao autoritarismo imposto pela entidade através do presidente e sugeriu que a preocupação maior deveria ser recuperar o futebol carioca. Avallone também criticou a proximidade do presidente do Vasco, Eurico Miranda, com o presidente da Ferj, Rubens Lopes da Costa Filho.  “De uns tempos para cá fico abismado com o autoritarismo desse senhor presidente (da Federação). Está sempre ao lado do Eurico Miranda (presidente do Vasco), não é isso? O futebol carioca hoje não significa nada, é um grão de areia no futebol brasileiro, é um campeonato deficitário. Vi outro dia que tinha quatro mil pagantes em um jogo do Flamengo. É um absurdo. E ele ainda fala mal dos presidentes?” lamentou Roberto.

 

Clubes de MG, RS e RJ se reunirão no próximo mês para estudar alternativas

Não é só no estado do Rio que o campeonato estadual está deficitário. Segundo o presidente do Coritiba, Rogério Bacellar, o prejuízo de seu time, somente para abrir os portões do estádio Couto Pereira, chegou a R$ 100 mil no campeonato paranaense deste ano. Inconformado com a situação, Bacellar convocou os presidentes do Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio, Internacional, Flamengo e Fluminense para discutirem um campeonato maior e com times mais conceituados, abrangendo equipes do Sul, Minas e Rio de Janeiro.

Exemplos similares desta ideia do presidente do Coritiba já deram certo no Nordeste e Norte do país. O Nordestão voltou recentemente com sucesso ao calendário enquanto a Copa Verde também vem crescendo nas regiões Norte e Centro-Oeste. Para se ter uma ideia, a média de público do Nordestão, que unificou os principais times dos estados do Nordeste, foi maior que a média de público dos campeonatos gaúcho, carioca e mineiro.

Por que a Copa do Nordeste se consolidou no calendário do futebol brasileiro como uma competição tão atrativa aos torcedores da região?

- A competição aumenta o número dos clássicos estaduais, interestaduais e consequentemente a média de público;

- O formato de mata-mata em jogos de ida e volta também aumenta a rivalidade interestadual tão característica no Nordeste. Mais que confrontos entre clubes, trata-se de duelos de estados;

- A Copa do Nordeste é organizada pela CBF e o vencedor da competição garante vaga na Copa Sul-Americana - que mesmo pouco badalada é garantia de mais dinheiro nos cofres e visibilidade na mídia para os times nordestinos;

- Com o aumento da competitividade, times são obrigados a se reforçar. No campeonato deste ano estiveram presentes nos gramados jogadores conceituados como Magno Alves, Durval, Diego Souza, Juan, Jorge Wagner, Júlio César, Dudu Cearense, Chicão, entre outros.

- Os times do Nordeste convivem com poucos títulos de grande expressão, menor cobertura da mídia nacional e verba muito aquém de cifras milionárias. Com a unificação de todos os times da região, o campeonato ganha em credibilidade e sua conquista se torna mais importante.

Dessa forma, a Copa do Nordeste se transforma num prato cheio para o torcedor vestir sua camisa, ir ao seu estádio e valorizar o futebol de sua região. Agora teremos que aguardar as cenas dos próximos capítulos para ver se este campeonato envolvendo times do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro dará certo. Uma ideia que com certeza ajudará na arrecadação dos clubes que estão repletos de dívidas.

 

 

 

 

 

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