Números de candidatos a vagas de estágio cresce quase 20%
A faixa etária mais afetada pela crise econômica busca uma saída para não ficar à margem do mercado de trabalho
Os programas de estágio, além de estarem em ascensão entre as empresas privadas e órgãos públicos do país, estão atraindo cada vez mais estudantes, especialmente diante do cenário conturbado que o mercado de trabalho nacional enfrenta. A crise econômica, que já dura mais de dois anos, fez com que as empresas cortassem investimentos e reduzissem o número de funcionários, o que afetou, principalmente, a faixa etária entre 14 e 24 anos – a taxa de desemprego chegou a 25,6% – justamente a parcela da população com menos experiência, e que, muitas vezes, está iniciando a vida profissional. Em vista disso, os mais jovens têm migrado suas buscas do mercado formal para os programas de aprendizagem, que vem apresentando números expressivos nos últimos anos.
Retração no mercado
A crise que os país atravessa nos últimos anos causou um encolhimento significativo no mercado de trabalho. Muitos brasileiros perderam o emprego e o Brasil fechou 2016 com um número recorde de desempregados: mais de 12 milhões. Só no ano passado foram cerca de 2 milhões de pessoas que perderam o emprego e inflaram esse número, que vem crescendo de forma acelerada em mais de dois anos de profunda recessão na economia brasileira.
A estimativa dos especialistas prevê que esse ano a economia comece a melhorar e que o número de contratações vá superando, aos poucos, o número de demissões, porém, esse alivio vem a passos lentos, e o total de desempregados pode subir ainda mais ao final do ano. As projeções são de que 2017 seja um momento de estabilidade para o mercado brasileiro, pois as vagas criadas ainda não terão capacidade de absorver toda a demanda que está sem emprego no momento e, só após esse período, poderá ocorrer uma recuperação efetiva.
Em alta entre os jovens
Além de ser mais flexível para se adequar a rotina dos estudantes, o estágio ainda se mantém na contramão da crise, com números positivos e um crescimento gradual, esses programas se tornam atraentes para os jovens estudantes, que enxergam uma saída para driblar a crise e conseguir uma colocação. Segundo levantamento realizado pela Companhia de Estágios – assessoria especializada no recrutamento e seleção de estagiários – somente no primeiro semestre de 2016, o número de inscritos nos programas de estágio cresceu 17,6% em comparação com o mesmo período de 2015. Um crescimento exponencial no histórico, pois, comparando o primeiro semestre de 2013 com o do ano seguinte, o número de inscritos subiu apenas 3,8%.
Programas de aprendizagem
O estágio tem uma série de benefícios interessantes, tanto para o estudante quanto para quem o contrata. Com uma regulamentação própria desde 2008 (Lei nº 11.788), esses programas são encarados com seriedade e já foram adotados há muito tempo pelas multinacionais, além disso, vêm ganhando cada vez mais espaço dentro das empresas brasileiras, desde pequeno até grande porte.
Principais vantagens
Além de uma carga horária mais branda, que favorece a conciliação entre trabalho e estudos, os estudantes ainda podem contar com uma bolsa-auxílio, que varia dependendo da área de atuação, e auxílio transporte. Férias proporcionais também estão garantidas aos estagiários, além disso, para muitos, o estágio pode representar uma porta de entrada no mercado de trabalho, especialmente por não exigir experiência prévia, assim o programa facilita para que o estudante, mesmo aqueles que nunca trabalharam, tenham uma vivencia profissional no ramo escolhido.
Para Tiago Mavichian, diretor da Companhia de Estágios, “O estágio é um programa educativo que, ao mesmo tempo em que ensina, também promove o desenvolvimento profissional do estudante. O principal intuito do estágio é proporcionar conhecimento aos participantes e ser o local onde eles poderão colocar em prática todo o aporte teórico adquirido no curso”.
O que as empresas têm a ganhar
A redução de custos pode até ser um dos principais fatores que atraem a atenção de quem contrata ou pretende contratar um estagiário, pois, por não caracterizar vínculo empregatício, há a isenção de encargos. Mas as vantagens não param por aí, Mavichian afirma que as empresas que aderem aos programas de aprendizagem permanecem e, muitas vezes, ampliam o quadro, pois logo percebem o conjunto de benefícios agregados à contratação de estagiários.
O especialista ressalta que as empresas têm a oportunidade de treinar e desenvolver o estudante de acordo com a cultura organizacional. “Além de contar com um profissional que está adquirindo novos conhecimentos de forma continua e atual durante o curso, que podem ser aplicados no ambiente profissional, a concedente ainda tem a oportunidade de compor seu quadro de funcionários ao final do processo, pois, é possível efetivar os estagiários, e contar com uma mão-de-obra qualificada que já está alinhada com os objetivos da empresa” explica Mavichian.
Rotatividade
O contrato de estágio possui um limite máximo de 2 anos de atuação na mesma empresa, o que faz com que a cada novo semestre muitos sejam encerrados, seja pelo término, pela rescisão ou pela efetivação do estudante. Mas, apesar da regulamentação permitir a rescisão do termo de compromisso a qualquer momento durante o período vigente, por ambas as partes, esse é o motivo que menos ocorre.
Pesquisas indicam que na maioria das vezes o estudante acaba sendo efetivado e passa a fazer parte do quadro de funcionários da empresa. Apenas nas instituições públicas não é possível ocorrer essa efetivação, pois a seleção desses órgãos é feita através de concurso. Portanto, além das seleções que ocorrem durante o ano todo, muitos processos seletivos são abertos na transição de cada semestre para renovar o quadro de estagiários das empresas e suprir a demanda tanto aqueles que encerraram os contratos, foram efetivados ou concluíram o curso.
Férias: é preciso ficar atento
Rafael Pinheiro, gerente de Recursos Humanos, explica que o período de férias é época de alta temporada na contratação de estagiários justamente devido à rotatividade dos contratos, porém há muitas incidências de faltas nos processos seletivos: “Com o período de férias escolares alguns estudantes perdem o foco e, consequentemente, as oportunidades. Muitos faltam nas dinâmicas ou não ficam atentos aos e-mails e acabam perdendo os prazos, portanto, apesar das férias serem encaradas como um momento propício para o descanso e relaxamento, quem está em busca de uma oportunidade deve redobrar a atenção”.
Como se destacar na entrevista
Pesquisas recentes mostram que quase metade dos candidatos já são eliminados nas primeiras fases devido a erros de português. Independente da área, seja humanas, biológicas ou, até mesmo, exatas, saber falar e escrever a língua materna corretamente é fundamental. Mesmo que o processo seletivo não exija nenhuma redação ou algo escrito, é preciso se atentar a concordância verbal e ao uso de gírias. Além disso também é importante se informar sobre a corporação e seu ramo de atuação.
Controlar o nervosismo e demonstrar pro-atividade e espírito de equipe também são pontos positivos para se destacar nas dinâmicas. Além disso os candidatos que possuem uma qualificação a mais, como cursos complementares ou outros idiomas podem pode ter mais chances de conseguir a vaga. Trabalhos voluntários na área de atuação ou com enfoque social também são fatores diferenciais para quem busca uma colocação.
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